APENAS UM SONHO!

Eu acordei chateado. Sequer tomei o matinal café da manhã com o tradicional pãozinho passado na manteiga, e tapioca com manteiga da terra. Estava deveras chateado, por que na noite anterior, não conseguira fazer uma das coisas que mais gosto: ir ao teatro! é, na minha cidadezinha do interior tem um teatro, acredita? tem, e um teatro dos bons com cadeiras confortáveis, com uma boas estrutura cênica onde se pode assistir bons espetáculos. É um teatro de 180 lugares pequeno, mas muito aconchegante.
Viver no sertão tem suas vantagens, aqui a cultura flui naturalmente, as pessoas consomem arte no seu dia-a-dia como assim o fazem com feijão e arroz. O poder público investe maciçamente na cultura, diversificando o seu leque de atrações e suas várias vertentes produtivas, resgatando e mantendo vivas instituições culturais ao longo dos anos, o que credencia nossa região como um celeiro de grandes artistas, que no seu cotidiano criativo vivencia apoio e incentivo da sociedade. É por isso que estou chateado. Não fui ao teatro por falta de vagas, por superlotação de suas dependências. A fila dobrava o quarteirão nas suas proximidades. A peça? nem me lembro. O título da peça? aí voce quer demais! não vê que estou indignado? alguem raciocina estando indignado, furioso? estou revoltado, e sabe porquê? porque tudo não passou de sonho, quase caí da cama quando dei por mim e me vi em trajes de dormir reclamando da fila no teatro.
Que bom se tudo fosse verdade. Teríamos como reagir a esse estado de coisas que assola nosso país! seríamos mais críticos conosco; veríamos mais claramente nossas deficiências culturais, educacionais, racionais... despertaríamos em nós o impetuoso de anos atrás esbelto, ativista, pensador, sonhador, contestador, mais humano, mais viril, mais cidadão, mais preocupados com o mundo! Um sonho bobo e impensável para uma mente velha, que foi o que me restou. Um sonho, apenas.

Edilberto Abrantes.

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