O LEGADO DE SÁ MARIA!


Nos sentávamos à beira da calçada para ouvirmos estórias de troncoso, que maravilhosamente nos fazia caminhar no imaginário, em um mundo mágico da narrativa de Sá Maria. Sá Mária era uma dona de casa rude, sem instrução, analfabeta, mas tinha o dom da narrativa, se expressava de uma forma tão elouquente que poderia colocar doce e fel na boca de quem ouvia suas estórias, em apenas um segundo. Me lembro que parávamos de brincar, de correr pela rua, deixando sem sentido as brincadeiras de roda, a ciranda, o pula-pula, o acusado, o brinquedo perdia o sentido lúdico, a sua importância, quando Sá Maria se dispunha a contação de suas estórias, seus castelos, seus arqueiros medievais, suas fábulas, suas arcas e seus navios abarrotados de ouro, potes e mais potes do precioso metal.

Aquela mulher singela, despertou em mim toda a paixão pelo imaginário que carrego comigo até hoje. Despertou a inquietação que tenho para escrever em todas as correntes e vertentes da literatura. Marcou a minha infância e deixou um legado muito importante dentro de mim: contribuiu para despertar em mim o que sou hoje; que sem o sonho e a fábula não se pode entender a pureza da infância e o sentido da formação cultural de uma criança no seu mundo imaginário, de fantasia, de constante busca de resposta para o ser criança. Hoje vendo os governos procurarem investir no lúdico através de exposições e projetos culturais, na cotação de estórias e na formação de contadores de estórias, lembro de Sá Maria que nos contava estórias em um tempo menino!


Edilberto Abrantes.

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