Farinha pouca, meu Pirão Primeiro...


O ministro Gilberto Gil foi muito criticado e até incompreendido por boa parte dos artistas brasileiros quando do episódio da divisão de receitas com o ministério dos esportes, ocasião que os artistas bateram pé e não aceitaram dividir a verba do governo federal destinada para apoiar projetos culturais. O ministro dos esportes queria um pouco dessa verba para custear atletas olímpicos e esportistas brasileiros. O ministro Gil chamou os artistas de egoístas e disse que os artistas reclamam da falta de apoio, de incentivo às suas iniciativas, mas só enxergam sua causa. - Farinha pouca, meu pirão primeiro... disse Gilberto Gil, desagradando à classe artística nacional. Os artistas queriam que ele representasse seus pares, mas um ministro é um ministro, representa um governo não uma classe, um segmento; ademais, o setor cultural, as pessoas envolvidas neste setor são desarticuladas, são vontades incomuns, geridas por interesses individuais; não há transparência, não há contrapartida social. Os grupos pensam unicamente na promoção de seus trabalhos, em detrimento do trabalho dos outros. Aqui nas várzeas sousenses não é diferente. As pessoas usam a cultura como se fosse sua propriedade. Como se pudessem dela dispor, como uma herança, passada de pai para filho. Como se estivessem numa olimpíada e lhe passassem o bastão! Por isto, a cultura se encontra nesse marasmo; Por isto, a alienação das massas! Por isto, não se vai mais ao teatro! Não existe mais teatro: os produtores embolsam a verba, antes de chegar aos palcos!

Não há cultura nas escolas, nos bairros, nas comunidades, tem sempre um bicho-papão, comendo as oportunidades e engordando sua burra, se lixando para o resgate da cultura, do folclore, das tradições, para o desenvolvimento de políticas culturais. - Farinha pouca, meu pirão primeiro! Disse bem o grande artista Gil na pele de ministro. As panelinhas estão entranhadas nos gabinetes de gestão de cultura, país afora, manipulando projetos, fraudando licitações e baixando a cabeça para maus gestores, coniventes com desmandos, sem senso crítico ou sentimento de repúdio, por estar mancomunado com o esquema e envolvido com o ilícito. Este é o retrato da cultura em nosso país! Como cobrar da sociedade que leia mais, que vá ao teatro, aos shows de música clássica, aos saraus de poesia, se os próprios artistas não têm identidade, ideologia, atitude de mudança, dos velhos vícios e das velhas estruturas, onde tudo é feito às escondidas e por debaixo do pano? Primeiro os artistas envolvidos, o meio, a cultura como um todo, tem que mostrar a sociedade que é benéfica, salutar, enriquecedora, para que se possa digeri-la sem medo de estar se envolvendo com algo ruim e maléfico, mas bom para o engrandecimento e enriquecimento cultural da sociedade.

Edilberto Abrantes.

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