O pai das vacinas modernas morreu sem que o mundo soubesse quem ele era


 
ARIADNE ARAÚJO
colaboração para a Livraria da Folha

O pai das vacinas modernas morreu em 2005, sem fama e com um pé no anonimato. Mas, mesmo se você nunca ouviu falar o nome dele, saiba que Maurice Hilleman foi o microbiólogo genial que salvou milhares de vidas, livrando o mundo do fantasma de doenças infantis devastadoras, como a caxumba, rubéola, sarampo, catapora, hepatite A e B, pneumococo, meningococo e a Haemophilus influenzae tipo b (Hib). Provavelmente, você já tomou algumas delas quando era criança.
Para tirar do esquecimento o nome desse gigante da pesquisa farmacêutica, o doutor Paul Offit escreveu "Vacinado - A luta de um homem para vencer as doenças mais mortais do mundo" (Idéia&Ação). Mas, o livro não é uma biografia, e sim um apanhado de 200 anos da história das vacinas, onde o trabalho de Maurice Hilleman teve papel crucial. Uma história na qual o próprio autor é também personagem. Como médico envolvido em pesquisas de doenças infecciosas infantis, na Filadélfia, Offit desenvolveu uma vacina contra o rotavírus.
Maurice Hilleman escapou da morte por um triz e várias vezes. Ele nasceu em 1919, em Montana, nos Estados Unidos, em meio a pior pandemia de gripe da história. Neste dia, foi o único sobrevivente: a mãe morreu após o parto, de eclampsia, e a irmã gêmea nasceu morta. O menino foi criado pelos tios em uma granja e antes dos 10 anos de idade já havia escapado de um quase afogamento, a um atropelamento de um trem de carga em alta velocidade e à difteria. A vida dura e simples na fazenda, fez dele um jovem determinado e trabalhador.
Depois da universidade, ao invés de seguir o caminho promissor de pesquisador e professor acadêmico, ele preferiu ficar no olho do furacão da movimentada atividade da indústria farmacêutica - trabalhou durante toda a sua vida para a Merck. Assim, quando em 1957 o mundo se assustou com os primeiros casos da gripe asiática, ele trabalhou durante 5 dias e 5 noites para determinar o vírus influenza que circulava em Hong Kong e fez uma previsão que escandalizou os americanos.
À imprensa, ele mandou uma nota avisando que o vírus se espalharia pelo mundo e que chegaria aos Estados Unidos no segundo ou terceiro dia da volta às aulas. "Fui declarado louco", disse ele. "Mas ela chegou pontualmente". Quando suas previsões se confirmaram e o surto do vírus pandêmico começou a infectar, o microbiólogo já tinha girado a máquina para produzir e distribuir uma vacina em tempo recorde de 4 meses. Ao final do surto, as ações rápidas desse homem exigente e de forte caráter salvaram milhares de vidas.
Hilleman acreditava que o futuro das pandemias de gripe poderia ser previsto a partir de pandemias passadas. Depois do surto da gripe asiática, nas 3 décadas seguintes, ele produziu e testou mais de 20 vacinas. Nem todas funcionaram, mas ele chegou muito perto. Até os últimos dias de sua vida, ele não parou de tentar. Sua última pesquisa inacabada focava-se na cura do câncer, que o matou. Suas vacinas salvam vidas, mas Hilleman nunca ganhou o Nobel e morreu na triste constatação de que ninguém sabia quem ele era e o que havia feito. 
"Vacinado"
Autor: Paul A. Offit
Editora: Ideia e Ação

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