um Circo diferente
Nós
vivemos sobre o fio da navalha, andando no arame, na corda bamba de um
circo cujo palhaço é o faz tudo da equipe circense. Fazemos palco com
malabarismo para pagar e reger nossas obrigações diárias, enquanto cidadão devedor
de impostos e obrigações sociais. Fazemos do trapézio e o seu sobe-e-desce
contínuo nossas tarefas do dia-a-dia em nossa oscilação de humor, frente
às adversidades e atribulações da vida moderna. Vivemos como um leão numa
jaula, pouca comida na mesa, pouco espaço para locomoção, nenhum divertimento
enquanto trabalhador, ao som do chicote e do açoite de um domador com cara de
Fisco, polícia, Juizado, e o submundo que nos mantém presos em casa e dançando,
pulando argolas, subindo em cadeiras e pulando em rodas de fogo para uma
plateia cada vez maior de espectadores da desgraça alheia.
A televisão está aí, mostrando as
bizarrices de nossas mazelas cotidianas. Depois das novelas, dos seriados, dos
filmes b, das produções de baixo valor cultural, agora inventaram os
reality-shows, os BBBs da vida, os No Limite que nada mais são do que a
baixaria institucionalizada e banalizada do mundo real, onde a criação
artística se tornou refém do bizarro real.
Realitys Shows, Bumbuns e pornografia explícita, textos repetidos e situações vexaminosas em programas que tem em seu conteúdo o cotidiano familiar; plantões em delegacias de polícia, hospitais públicos e diligências em viaturas de emergência de socorro a acidentados ou batidas policiais em morros cariocas ou nas favelas paulistas usam o mesmo artifício de prender e conquistar o telespectador. Que pobreza na telinha de nossas redes de TV!
Enquanto alguns pedem a legalização
da maconha, outros choram seus filhos drogados. Enquanto alguns lutam contra a
prostituição infantil, os bares estão aí lotados de menores; na televisão
o que se ver é propaganda de cerveja e mulher gostosa e pelada dando o ar
da graça, com todo mundo sarado festejando o que? sexo? Liberou geral? É assim
que o jovem vê, que tudo pode, que a onda é essa, que juventude é isso: transa,
malhação, pop rock e o mundo que se exploda. Eu não sou de circo, mas adoro a
arte circense propriamente dita, a arte da brincadeira lúdica, da fantasia; não
esse circo real e cruel que o consumo e os governos mais preocupados com o
produto interno bruto querem nos empurrar goela abaixo. Desse circo não quero
ser nem espectador, a esse renego e tenho manifestado meu pensamento
veementemente contra.
Edilberto Abrantes
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