A NOITE MAIS LONGA DO MUNDO!



Era uma noite de forró das mais festivas do sertão paraibano. Uma noite de forró, um arrasta-pé como era chamado na época lá pras bandas de São João do Rio do Peixe. Salão decorado com bandeirolas de todas as cores, lampiões de gás iluminando o recinto de chão batido, lisinho, pisado esmeiradamente com todo carinho para o acontecimento daquela noite de forró. Todos esperavam com ansiedade a presença do Trio Nordestino, famoso grupo de forró de sucessos como Chililique, Forró Pesado, Procurando Tú e outras pérolas da tradicional música nordestina!Começou o forró e naquele sarrabuiado, naquele chamegado, a moçada se entregava, se esfregava, arrastava o pé na pintura do salão. Era um sucesso atrás do outro tocado naquele salão cheio, apinhado de sertanejos ávidos por uma noite forró para balançar o esqueleto e dar um trato em seus xodós, seus amores, suas querências. Tava tudo na paz, quando nego Zeca de Luzia desembainhou sua faca de doze polegadas e bramiu-a contra os tocadores de forró, ameaçando, alegando ser uma farsa, uma fraude, que ali não tinha Trio Nordestino coisa nenhuma. Houve uma debandada geral, de gente correndo para todos os lados! O homem estava enfurecido e com muito álcool na cabeça disse ir em casa, pegar um disco de vinil do Trio Nordestino para tirar a limpo aquele engano.


- Não! (vociferava o bêbado) ninguem engana Zeca de Luzia...


Correu em casa pegou seu material (duas capas velhas de discos do Trio Nordestino) e voltou ao salão endiabrado para acabar com a farsa. O empresário sumiu e deixou seus contratados em maus lençóis, que além de nada saber, tiveram que pagar pelo engano e a vilania de um mal profissional. O revoltado cidadão indignado com os músicos, que sob a ameça constante de uma faca doze polegadas foram obrigados a virar a noite tocando das 22:00 horas de uma noite enluarada até as 10:00 horas de uma manhã ensolarada, enquanto este tivesse gás na lamparina e adormecesse sobre a mesa onde repousava uma velha faca de doze polegadas enferrujada, que convencia qualquer cristão em sua devoção e medo.


O empresário vigarista sumiu e deixou a sua trupe de músicos ao deus-dará, sem dinheiro, sem segurança, proteção, à mercê de um maluco, um fã revoltado que nos delírios de uma cachaça safada deixou os músicos de dedos inchados e olhos vidrados pelo medo do pior. No nordeste é assim, o músico para sobreviver de música passa por tosa sorte de adversidades, inclusive de maus profissionais que são verdadeiros predadores da arte maior, a música. Os músicos estão aí para contar a história, mais uma em suas vidas carregadas de histórias interessantes, que um baú de recordações não é suficiente para guardar.


Edilberto Abrantes

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