Veja o especial do iG sobre a queda do Muro de Berlim

SÃO PAULO – Vinte anos após a queda do Muro de Berlim, as diferenças entre os lados oriental e ocidental da Alemanha, separados e administrados por regimes políticos distintos durante 44 anos, diminuíram consideravelmente. Mas disparidades sociais, econômicas e culturais ainda estão presentes no cotidiano dos alemães, segundo especialistas ouvidos pela reportagem do Último Segundo.


Esta é uma das reportagens que fazem parte do especial sobre os vinte anos da queda do Muro de Berlim. Entrevistas, artigos, infográficos, galerias de fotos e vídeos buscam mostrar o impacto político, econômico e cultural de um dos fatos históricos mais importantes do século 20.

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Com a queda do Muro, população pôde atravessar a fronteira e participar da unificação do país

Com a queda do Muro, população pôde atravessar a fronteira

Um relatório sobre o estado da unificação divulgado anualmente pelo governo alemão mostra que entre 2006 e 2008 foram investidos US$ 60 bilhões no apoio a negócios e reformas de infraestrutura na Alemanha Oriental. Na última década a atividade econômica por pessoa passou de 67% para 71%, mas, por outro lado, o desemprego nesta parte do país ainda é duas vezes maior que o registrado no ocidente.

Para o historiador Angelo de Oliveira Segrillo, professor de História Contemporânea da Universidade de São Paulo, a equiparação entre as duas partes da Alemanha tem se dado de forma menos acelerada que a prevista no período de entusiasmo e otimismo que se seguiu à queda do Muro de Berlim.

"Hoje, o lado oriental alcançou entre 75% e 80% do nível de vida do ocidente", afirma, notando a rapidez com que as transformações foram promovidas no país. "Apesar de falarmos em reunificação, na prática o que aconteceu foi uma incorporação da Alemanha Oriental ao lado ocidental. Isso facilitou as mudanças administrativas".

No entanto, os esforços para igualar economicamente as duas regiões também causaram choques culturais. "Em relação ao leste europeu, a Alemanha Oriental tinha um nível de vida alto, o que era motivo de orgulho para seus cidadãos", explica. "De repente, essa parte do país foi colocada na posição de 'aprendiz' e os moradores tiveram que se acostumar a uma economia de mercado, o que não foi fácil".

Para o cientista político Christian Lohbauer, membro do Gacint (Grupo de Análise da Conjuntura Internacional da Universidade de São Paulo), as dificuldades de adaptação do trabalho ao regime de capital faz com que os índices de produtividade continuem mais baixos na Alemanha Oriental.

Segundo Lohbauer, muitos alemães que hoje têm cerca de 60 anos não conseguiram se acostumar a um mundo em que o Estado não é o provedor. "Ainda existe uma espécie de Muro psicológico", opina. "Em ambas as partes do país, as gerações mais antigas guardam ressentimentos: quem é do lado oriental se sente tratado como cidadão de segunda classe, e quem é do ocidente se queixa de ter ficado com a maior parte do custo financeiro da reunificação".

Os sucessivos anos de injeção de recursos para a recuperação da Alemanha Oriental – sistema que deve continuar em vigor até 2019 – foram fundamentais na modernização dos locais que ficaram sob domínio comunista.

"A comemoração dos 20 anos da queda do Muro mostra que hoje Berlim é uma cidade totalmente integrada e dinâmica", afirma Flávio Rocha de Oliveira, cientista político e coordenador do curso de Política e Relações Internacionais da Escola de Sociologia e Política de São Paulo (ESPSP). "Berlim esqueceu seu passado nazista e totalitário, transformando-se em uma cidade multiétnica e multicultural".

Embora outras cidades do lado oriental não estejam tão bem integradas à Alemanha unificada quanto a capital, o cientista político acredita que, entre os mais jovens, a sensação é a de que as oportunidades são iguais e os problemas que persistem podem ser superados.

"Hoje, as pessoas que moravam na parte mais pobre da Alemanha não apenas participam da vida política como também mandam no país", pontua, lembrando que a atual chanceler alemã, Angela Merkel, viveu na área sob domínio comunista até a queda do Muro de Berlim, em 1989. "A questão dos lados ainda está presente na vida dos cidadãos, mas não paralisa a Alemanha".

Com informações do The New York Times

Fonte: Último Segundo

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