FINAL DE CARREIRA


Eu já me sentia um cidadão em final de carreira. Barrigudo, fora de forma, bichado, pronto para pendurar as chuteiras e deixar os estádios da vida em função de muitas pancadas sofridas na minha correria desvairada em batalhar pelo pão nosso de cada dia. Embora tenha sido um jogador medíocre aos olhos de alguns, eu até me considerava bom de bola como peladeiro que fui no meu futebol de várzea.
Em meio a dribles desconcertantes aqui e ali, não consegui despertar a curiosidade de ninguém, alguém que visse em mim um exímio jogador, um craque de bola pronto para ser a menina dos olhos dos olheiros do futebol, aqueles que perambulam pelo país inteiro na esperança de encontrar um garoto bom de bola, para levá-lo quem sabe a uma escolinha de futebol de algum clube do sul do País.
Não tive essa sorte. Sempre fui um trabalhador. Sempre sulquei minhas mãos de calos. Nunca fui bom de pernas, de ginga, a não ser para correr. Correr com minhas obrigações diárias. Com minhas frustrações. Com meus afazeres domésticos. Com minhas aflições. Nunca tive brilho de estrela! E trabalhador tem estrela? Tem luz própria? Sequer remuneração adequada pelo que exerce e produz? Sei que não. Mas uma coisa me fez ver que nada está perdido. Que esse país tem jeito! Que o diga o Pré-sal (o petróleo em águas profundas) o presidente disse não ter certeza se vai dar lucro. E não é que Ronaldo o fenômeno gordo, bichado, sem jogar, só com a cara e a dentuça, só para dar entrevistas e dizer que é do Corinthians ganha R$: 437.000,00 mil reais mensais fora a publicidade. Sem jogar? e ainda dizem que gordo não faz sucesso!
Isto significa que nem tudo está perdido. Que a experiência vale alguma coisa, pelo menos para tirar foto e me fazer sentir bem melhor do que eu me sentia antes. Afinal, Ronaldo é um fenômeno mesmo, faz todo mundo ver uma coisa que não existe. Uma coisa, ele sabe fazer muito bem e melhor do que jogar a bola que jogou no passado: é um craque do marketing e da publicidade. Para vender a sua imagem ele bota Duda Mendonça e Roberto Justus no bolso. No mais ele joga tanto quanto a sua dificuldade de perder peso. O resto é especulação.

Edilberto Abrantes

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